A autorreforma é a resposta que o PSB pode dar à crise dos partidos e ao colapso do sistema político, principalmente a partir da eleição de um governo antipopular e de ultradireita. É a contribuição do Partido Socialista Brasileiro para ajudar a recuperar a credibilidade da política, para reconciliar os eleitores com os seus representantes, de modo que o cidadão possa participar das decisões que podem levar o país ao pleno desenvolvimento e ao combate à profunda desigualdade social.
Em seu discurso na abertura da Conferência Nacional da Autorreforma, nesta quinta-feira (28), no Rio de Janeiro, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira disse que o partido assume a responsabilidade de fazer autocrítica para se aperfeiçoar e se reinventar num momento em que a democracia está ameaçada com um discurso “despudorado” da volta do AI-5, o aumento do desmatamento da Amazônia, a tentativa de criminalizar os movimentos sociais e ainda os retrocessos brutais contra a classe trabalhadora e o povo mais pobre do país.
“Não é admissível que nós não olhemos criticamente para o sistema político que praticamente desmoronou, principalmente a partir de 2013. Somos parte desse sistema, e para o bem ou para o mal, nós estamos dando a nossa contribuição, pois também cometemos os nossos erros, também temos responsabilidade, não podemos deixar de assumi-la”, avaliou.
No discurso, Siqueira defendeu uma reação ao governo de Jair Bolsonaro. Na sua opinião, “uma escolha trágica para a democracia brasileira”. “Lamentavelmente uma escolha erradíssima, uma escolha trágica para a democracia brasileira, um homem quen não reconhece uma única virtude da democracia, que homenageia ditadores e torturadores. É por isso que nós não podemos ficar de braços cruzados”.
Participam da conferência cerca de 300 filiados, entre integrantes do Diretório Nacional, dirigentes da Fundação João Mangabeira e dos segmentos sociais do partido.
Siqueira fez uma homenagem ao Rio de Janeiro, onde o PSB foi fundado em 1947 e refundado depois do período da ditadura militar com figuras históricas como Jamil Haddad e Roberto Amaral. “Aqui também devemos plantar a semente de um novo momento para o PSB. A decisão de fazer essa conferência aqui é também uma homenagem aos nossos fundadores e refundadores”, afirmou.
Em fala emocionada, o presidente do PSB lembrou da realidade atual do Rio de Janeiro, “do sofrimento das balas perdidas, de sua juventude negra, dizimada”. “Temos que dizer que essa tragédia foi construída historicamente e que, portanto, pode e deve ser dissolvida politicamente”, concluiu.
Durante a abertura, o pianista e membro do Diretório Nacional, Arthur Moreira Lima, executou Polonaise Heroica , de Frederic Chopin, e Carinhoso, do Pixinguinha.
A capacidade do PSB de se examinar com racionalidade necessita ir além da autocrítica, disse Siqueira. “Precisa ter iniciativas e a primeira delas, sem pedir licença a ninguém, é a de nos autorreformarmos, de nos aperfeiçoarmos, de sermos contemporâneos de nós mesmos, de estarmos à altura dos desafios monumentais que a crise na política nos colocou”, afirmou.
A autorreforma vai democratizar o partido também por meio da tecnologia, por exemplo, com consultas frequentes aos filiados, militantes e a sociedade em geral sobre temas importantes que exigem posicionamento do partido. Para Siqueira, faltam aos partidos mecanismos democráticos que permitam essa interação e radicalização da participação.
“Estamos propondo dois movimentos, um para dentro, para emular os filiados, e outro para fora. O filiado não pode ficar apenas esperando que a cúpula do partido decida, por isso é preciso que eles influenciem e participem das decisões”, defendeu.
Além de lançar um aplicativo, o partido propõe, em um dos documentos em análise na conferência nacional um sistema de ouvidoria, com ombudsman, para que não só militantes, mas a população possa “ter a palavra”, fazer críticas e denúncias, e dar as suas contribuições.
Siqueira disse que é preciso “oxigenar a vida partidária”. “Um partido político não vive apenas para cuidar de si, não vive para seus mandatários. A nossa população tem que ser colocada acima dos partidos, porque são os interesses dela que nós temos que representar”.
Para ele, o partido socialista tem a ‘obrigação’ de honrar o seu passado de lutas históricas e conquistas em favor dos mais necessitados, a partir da construção de um futuro produtivo e da construção de caminhos para ser um instrumento de transformação social.
“Sabemos exatamente o que queremos representar. Não estamos no Parlamento, nem nos governos, nem chegaremos à Presidência da República para defender milionários, ricos e banqueiros, para ser benevolentes com os sistemas financeiros que impõem aos partidos, em grande medida, a sua pauta, ao invés da pauta do povo brasileiro”, disse.
A autorreforma do PSB não é uma mudança cosmética, afirmou o presidente. “Essa mudança não é mudança de símbolo. Nos orgulhamos da nossa história, da nossa marca, do nosso símbolo, que é a pomba da paz, de Pablo Picasso. Aqueles que mudaram o seu nome, que fizeram mudança cosmética, não servem a ninguém e a mais nada”, criticou.
Siqueira defendeu a reorganização, a modernização e a redução do número de partidos, para que os eleitores possam identificar claramente as bandeiras e compromissos de cada sigla. Se isso não for feito, disse o presidente do PSB, está aberto o caminho para a consolidação do autoritarismo no país, “porque não há democracia sem partidos fortes”.
O socialista fez críticas às gestões dos governos de esquerda na Presidência da República, que, segundo ele, não foram capazes de fazer reformas estruturais no país, como a política, a educacional e a tributária, disse. “Os governos de esquerda não foram capazes de taxar os lucros e dividendos dos banqueiros. Por outro lado, o atual governo já taxou os trabalhadores desempregados. Isso não é normal, isso é fruto das nossas falhas”, criticou.
Apesar do momento difícil do país, o presidente do PSB defendeu a confiança no futuro. Destacando as potencialidades do Brasil, Siqueira sustentou a necessidade de um projeto de industrialização e o ingresso do país nas novas cadeias globais de produção, a economia criativa, o desenvolvimento sustentável da Amazônia por meio do conhecimento de sua biodiversidade “sem derrubar árvores”, ensino de qualidade e melhoria da saúde pública.
“Uma das principais tarefas do PSB é trabalhar pela diminuição da abissal desigualdade social do país, que separa as pessoas em favelas e em guetos”, disse Siqueira. A autorreforma, que discute não só a forma de fazer política do partido, mas sobretudo propostas para o desenvolvimento do país, é o primeiro de muitos outros passos que o partido vai dar, afirmou.
“Essa vontade tem que contaminar o nosso partido e a nossa população. É fazer a boa política e a política que a população quer. A população não tem raiva da política, a população não está gostando é da atual política, porque ela sabe que é através da política que nós podemos transformar”, afirmou. “A população brasileira é melhor que a nossa elite, que não se preocupa com esse rumo de desenvolvimento”, disse.
Confira as imagens da abertura.
Assista à íntegra do discurso:
Assessoria de Comunicação/PSB nacional