Com o tema “Desigualdade e Desencantamento”, o psicanalista Jurandir Freire Costa trouxe um ângulo diferenciado para analisar a crise política e social do Brasil, durante a Conferência Nacional da Autorreforma do PSB. Para ele, a desigualdade provoca o desencantamento, em que a ideia de solidariedade entre as pessoas é minada.
“A grande desigualdade socioeconômica bloqueia a solidariedade. A desigualdade nos afasta do vivido, não nos faz igual ao vizinho”, disse o psicanalista, que exemplificou: “É fácil de perceber esse afastamento, sem qualquer julgamento, quando, após ver um noticiário sobre a tragédia de uma criança na Etiópia, desliga-se a televisão e vai jantar”.
Freire foi um dos especialistas convidados para abordar o tema da desigualdade no Brasil e no mundo atual. Também participaram da conferência magna os economistas Eduardo Moreira e Mônica de Bolle (por vídeo) e o jurista Daniel Sarmento. O encontro vai até o dia 30, no hotel Rio Othon Palace, no Rio de Janeiro.
Segundo o psicanalista, o desencanto da sociedade brasileira se dá em três universos de classe: ricos, camadas médias e pobres. “O do ‘clube dos que estão aqui por acaso’ são os ricos que não conseguem reconhecer os pobres como semelhantes devido ao desenraizamento, por falta de pertencimento”, afirmou.
“O segundo grupo engloba as camadas médias, em que o ressentimento traz esse estranhamento ao próximo por não ter tido uma trajetória de de enriquecimento, buscando como inimigos ideológicos projetos de ajuda aos menos favorecidos, como as cotas das universidades”, acrescentou.
O terceiro universo é o segmento dos pobres. “Eles lidam com a sobrevida e buscam então formas rápidas de ascensão como o tráfico de drogas e a salvação espiritual. Sem se solidarizar-se uns com os outros, todos estão construindo um inimigo comum: a política, a democracia e até mesmo Brasília por seu simbolismo”, explicou.
De acordo com Jurandir, o “inimigo comum” confere a sensação de solidariedade, mas é a construção de uma solidariedade de fachada, como num desfile de escola de samba. Cria-se, então, um gancho supostamente civilizatório com uma imagem de salvador da pátria projetando o ressentimento, a mágoa e o despeito. O passo seguinte é a criação de lideranças como o presidente Jair Bolsonaro.
“Bolsonaro é um poço de tudo de pior que temos em nós. É como votar em um coringa que supostamente vai nos tirar das nossas mazelas. Porque o político vem substituir nada menos que Deus. A política é o meio para se ter um país igualitário”, pontuou o psicanalista, que elogiou a iniciativa do PSB: “Sejamos realistas, vamos fazer do impossível possível. Pensando no bem maior para todos”.
A redução da desigualdade é o ponto central da “Autorreforma” em discussão pelo PSB. A principal meta defendida pelo partido, por meio de políticas sociais, é assegurar o acesso universal e a permanência em serviços públicos de qualidade que garantam mobilidade e emancipação social. No evento, será aprovado o documento-base da “Autorreforma”, dando início a discussão pública do documento, em que o partido pretende elaborar um novo e inovador projeto de desenvolvimento para o Brasil.
No sábado, dia 30, haverá uma Conferência Internacional para a qual estão convidadas lideranças políticas de partidos socialistas de Portugal, Espanha, Uruguai e Chile. A ideia é incorporar experiências internacionais de esquerda, que se identifiquem com os valores e a visão de futuro do partido, na busca de soluções democráticas, humanistas, progressistas e não-autoritárias para as questões nacionais.
Confira as imagens da abertura.
Assista à íntegra da participação do painelista: