A vice-presidente do Partido Socialista do Chile e presidente do Instituto Igualdade, Karina Delfino Mussa, participou do terceiro e último dia da Conferência de Autorreforma do PSB, dedicado ao debate internacional. Ao longo do dia, políticos socialistas da América do Sul e Europa debateram formas democráticas de enfrentar as crises que se apresentam.
Karina abriu seu discurso analisando os recentes números de casos envolvendo violação dos direitos humanos no Chile. “Já foram contabilizadas 5 mortes por ação do Estado, 230 pessoas com olhos machucados – algumas delas perderam 100% da visão –, e outras 2.800 pessoas feridas”, expôs.
A socialista explicou que o aumento da passagem do metrô nos horários de pico em 3,75%, de 800 para 830 pesos, imposto pelo presidente Sebastián Piñera, foi apenas a gota necessária para fazer o copo transbordar. “Quando a população acordou na manhã de 19 de outubro, dia seguinte ao protesto inicial que fechou estações de metrô e iniciou o caos, as pessoas entenderam que estavam vivendo uma violência sem igual que levou ao que muitos chamam de explosão de dignidade”.
Para Karina, os protestos recentes tratam-se das mobilizações mais significativas desde a volta da democracia no Chile, e mesmo tendo essa dimensão, não deixa de ser um momento doloroso para o país. “Precisamos do apoio dos partidos socialistas ao redor do mundo e do socialismo internacional, pois a população está sofrendo muito, estamos atravessando esse momento com muita dor”.
A socialista ressaltou que a população chilena não quer voltar a viver os episódios mais violentos da ditadura e fez um alerta para os brasileiros: “o que aconteceu no Chile não é um oásis como muitos pensam, não deixem que façam com o Brasil o que fizeram lá. Aprendam com o Chile e não repitam o mesmo erro”.
Como forma de exemplificar a maneira que os chilenos vêm sendo tratados pelas autoridades do país, ela citou a fala de um governante que incentivou o trabalhador a sair ainda mais cedo de casa, dessa maneira conseguiria pagar menos pela passagem, “as pessoas que madrugam se ajudarão”. Karina reforçou que essa não é uma possibilidade de resolver um problema social e que foi justamente esse descaso que causou “a explosão no Chile”.
A situação dos trabalhadores chilenos é tão triste quanto a dos aposentados. Karina explicou que em fevereiro houve um caso emblemático de suicídio de um casal de idosos que não queriam ser um ônus para a família, devido ao alto custo dos medicamentos, e porque a aposentadoria não permitia que vivessem dignamente.
“Não há como negar que houve uma redução importante da pobreza no Chile da década de 90, momento em que 38% da população viviam na pobreza, para 2017, ano em que 8,6% vivia na mesma situação. Ou seja, houve um avanço considerável na educação, saúde e serviços mínimos. Entretanto, o grande desafio é a desigualdade, a sociedade chilena é muito desigual. A América Latina é a região mais desigual do mundo e o Chile é um dos países mais desiguais da América Latina”.
Como alternativa a crise que assola o país, advinda do modelo neoliberal que foi implantado após a ditadura, Karina explicou que a oposição tenta impulsionar uma agenda social para mudar o sistema e chegar a um acordo político. “Precisamos desenvolver uma nova constituição, feita em um ambiente democrático. Para isso teremos um plebiscito em abril e em seguida uma Assembleia Constituinte e esperamos que seja 100% aceita no mês de outubro”.
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Assessoria de Comunicação/PSB nacional