“Se poder é bom, negro também quer poder”. Esse foi o lema do lançamento da iniciativa Quilombo nos Parlamentos, projeto apresentado pela Coalizão Negra por Direitos para eleger candidaturas negras em todo o legislativo nacional. Entre as 17h e as 22h da última segunda-feira (6), pré-candidatos de todo o Brasil discursaram na Ocupação 9 de Julho, no centro de São Paulo.
São mais de cem pré-candidaturas ligadas ao movimento negro de várias partes do país, numa articulação da Coalizão Negra por Direitos, rede com mais de 250 organizações deste campo, que faz sua estreia na política institucional.
Quilombo nos Parlamentos reúne, até o momento, 67 pré-candidatos a deputado estadual, 31 a deputado federal, 2 distritais e 1 ao Senado, numa aliança suprapartidária que envolve PSB, PT, PSOL, PCdoB, PDT e Rede Sustentabilidade.
Entre as pré-candidaturas estaduais do Quilombo nos Parlamentos está a de Carmem Silva (PSB-SP), fundadora do Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC). Aos 61 anos, Carmen Silva é uma das principais lideranças de movimento sem-teto do país e defende a luta por moradia, tendo sido candidata pela primeira vez em 2020, ao cargo de vereadora.
Quem é Carmen Silva
Mulher negra, nordestina e mãe de oito filhos, Carmen Silva deixou a Bahia fugindo da violência doméstica e em busca de uma vida melhor. Logo que chegou a São Paulo, em 1990, ela viu que ter um trabalho não era garantia de uma moradia digna, já que não ganhava o suficiente para pagar o aluguel. Durante muito tempo, ela teve que dormir em albergues. Vivendo na pele o drama de não ter onde morar, Carmen estava no grupo que grupo que, em 1997, ocupou a atual Ocupação 9 de Julho, um prédio do INSS entre as ruas Álvaro de Carvalho e Avenida 9 de Julho, no Centro de São Paulo.
Hoje o espaço, onde vivem 123 famílias, é um exemplo de como um espaço abandonado pelo poder público pode ser transformado por meio das pessoas. Além de moradia, ali tem horta comunitária, escola, uma galeria de arte, brechó e, antes da pandemia, uma intensa programação cultural nos almoços que aconteciam uma vez por mês e juntavam centenas de pessoas. Desde o ano passado, os almoços foram substituídos por quentinhas entregues ou retiradas no local, todos os domingos.
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Em 2000, o grupo da Ocupação 9 de Julho criou o Movimento dos Sem-Teto do Centro (MSTC), coordenado por Carmen Silva com voz ativa e um olhar que acompanha dos pequenos detalhes à estratégia para participar dos editais e dos conselhos gestores das políticas públicas.
Atualmente o MSTC coordena cinco ocupações em antigos prédios abandonados e está terminando o retrofit do antigo Hotel Cambridge, cujas unidades serão vendidas aos ocupantes com financiamento do Minha Casa Minha Vida. Esse prédio ficou famoso por causa do filme Era o Hotel Cambridge, que mostra o dia a dia do movimento e tem Carmen Silva como uma das protagonistas.
Além de ativista, Carmen também dá aulas de urbanismo no Insper, tem parceria com a Escola da Cidade e recebe especialistas de várias áreas nas ocupações, que prestam assessoria técnica ao MSTC.
PSB e a emancipação e empoderamento da população negra
De acordo com as teses da autorreforma, o PSB compreende que a luta antirracista está indissoluvelmente
ligada a uma estratégia civilizatória de igualdade social pela qual o Partido luta. A disparidade social, advinda das problemáticas causadas pelo racismo estrutural, enseja a luta do movimento negro pela sobrevivência e igualdade social e material das pessoas pretas e pardas no Brasil, luta reconhecida e defendida pelo PSB.
Segundo o Caderno 6, onde consta a Proposta de Novo Programa do PSB, o partido “defende a necessidade do aumento da representação das negras e dos negros nos poderes executivo, legislativo e judiciário, e nos demais
espaços de poder, o que permitirá superar a afirmação meramente casual e se converter em ações concretas. O PSB é solidário e copartícipe, – através de suas instâncias partidárias, e que têm na Negritude Socialista seu principal porta-voz -, das demandas dos movimentos negros, que não se restringem à questão racial,
mas também se relacionam com problemas sociais, econômicos e culturais que incidem sobre a população negra.”
Lula participa virtualmente do evento
Diagnosticado com covid-19, o ex-presidente Lula participou de maneira virtual do encontro. Ele enfatizou que ainda existe “muita desigualdade e muito racismo” no Brasil e que conta com a eleição de uma grande bancada de legisladores negros. “Se eles mataram Zumbi, vão precisar lidar com os milhões de Zumbis que vieram”.
O encerramento da atividade foi feito com uma mesa, composta por figuras históricas do movimento negro, como Sueli Carneiro, Milton Barbosa, Cida Bento, Hélio Santos, Vanda Menezes, Nilma Bentes, Antonio Pitanga, Iêda Leal, Iya Sandrali e Anielle Franco.
“Quando eu encontro vocês, eu vejo Maria Felipa, Acotirene, Dandara, tantas mulheres lutadoras. Esse país foi construído pela mão negra”, bradou Antonio Pitanga. Sueli Carneiro destacou a importância do prestígio dado pelo ex-presidente Lula para o evento e exaltou a força da Coalizão. “Nós vivenciamos um fato inédito, do lançamento de candidaturas negras de âmbito nacional, com a potencialidade de pela primeira vez eleger uma bancada negra significativa pela nossa ação política coletiva, sob a liderança da Coalizão Negra por Direitos”.
Todas as candidaturas apresentadas foram ou para o Congresso Nacional ou para as assembleias estaduais legislativas. Nenhuma candidatura para o senado, governo estadual ou presidência da república.
O encontro teve cortejo do Bloco Ilu Oba De Min, que apresentou ao público cantos para os orixás e músicas de exaltação das mulheres negras. Durante a apresentação das candidaturas, foi marcante a maior presença de mulheres e também a participação ativa de ativistas LGBTQIA+, com destaque para pessoas trans.
Com informações do site A Vida no Centro e do Alma Preta Jornalismo
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