A reforma agrária não se trata de apenas fazer a redistribuição de terras. A reforma agrária moderna tem que preservar a natureza. Por isso, defendemos desmatamento zero a partir de agora. É o que a firma João Pedro Stédile, dirigente nacional do MST. Ele foi o convidado da 25ª live da Revolução Brasileira no Século 21, que nesta quinta-feira (4), debateu ‘a reforma agrária e o MST’.
“A reforma agrária, fundamentalmente, tem que recuperar a verdadeira vocação da agricultura, que é produzir alimentos saudáveis para todo o povo”, afirma Stédile.
Ele lembra que se os paradigmas não forem mudados, a vida de todos está em risco. O aquecimento global já provoca eventos climáticos extremos que deixam destruição e mortes onde ocorrem.
Também participaram do debate o presidente do PSB, Carlos Siqueira e o coordenador do site Socialismo Criativo e membro do Diretório Nacional do PSB, Domingos Leonelli. A mediação foi feita por James Lewis.
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Agronegócio
“O agronegócio destrói o meio ambiente. Agrotóxico contamina até as nuvens. Isso mata a biodiversidade, o meio ambiente. Isso eles escondem. Embora use muita tecnologia, é um modelo insustentável do ponto de vista ambiental, econômico e social”, afirma.
Stédile lembrou que exportações agrícolas não pagam ICMS aos estados por conta da Lei Kandir, aprovada ainda durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. O que para o dirigente é extremamente prejudicial aos cofres públicos e, consequentemente, à população. Na Argentina, exemplifica, imposto similar ao ICMS é de 32% para o agronegócio.
O dirigente afirma ainda que o uso exacerbado de agrotóxicos se deve não à proteção das culturas, mas para reduzir o número de funcionários.
“Ganham dinheiro, mas excluem a população. Há uma estrutura de preconceito contra negros e pobres”, ressalta.
Stédile critica o modelo de produção insustentável
“Não temos problema com quem tem fazenda com até 1,5 mil hectares. Podemos fazer uma reforma agrária preservando as fazendas desse tamanho. Nosso problema é com o modelo de produção agrícola insustentável do ponto de vista econômico, ambiental e social. Por isso, a reforma agrária do futuro, que espero q incluam no programa (da Autorreforma do PSB), ela tem que ser mais ampla. Que preserve o meio ambiente, produza alimentos saudáveis e dê emprego e renda para nossa gente. Sem isso, não tem futuro”, adverte.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, enfatiza a necessidade de mudança de paradigma de desenvolvimento.
“Você quer produzir e criar um mercado interno para atender a milhões de pessoas ou apenas produzir para alimentação apenas do mundo desenvolvido. Sabemos que nosso atraso decorre da ausência de uma elite dominante, que sequer merece esse nome. Não é só em matéria de campo. O capitalismo chegou a um grau que significará a destruição do planeta. Se a marcha da insensatez não for contida, sobretudo as futuras gerações, pagarão por isso. Precisamos lutar cada vez mais por um mundo diferente”, defende Siqueira.
Tecnologia no campo
Stédile defende a necessidade de desenvolvimento de soluções tecnológicas que atendam aos camponeses e pequenos produtores. Uma instituição aos moldes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mas voltada para a criação de maquinários para atender às necessidades desses produtores é essencial na visão de Stédile.
Os três países que mais desenvolvem maquinário para os camponeses são Alemanha, China e Coreia, de acordo com o dirigente do MST.
“No Brasil, temos apenas três fábricas de tratores em todo o território nacional”, sublinha Stédile, que atendem apenas aos grandes produtores.
‘MST é uma força política extraordinária’
Domingos Leonelli ressalta a força política do MST e observa a importância da tecnologia para o campo.
“O MST é uma força política extraordinária. E a reforma agrária se conecta com o novo modo de produção. O capitalismo mudou muito, mas o fato é que a economia criativa como modelo de desenvolvimento coincide com novo paradigma que defendemos. A formação de capital é predominantemente gerada pela inovação e criatividade. Por isso, o PSB defende um novo modelo de desenvolvimento”, enfatiza o socialista.
Para James Lewis, o país perdeu uma janela de oportunidade para avançar na distruição de terras com o golpe militar, em 1964.
“Perdemos um momento histórico fundamental para que a questão agrária pudesse avançar e vivemos a longa noite do período ditatorial”, analisa.
Assista a live na íntegra
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