Há 31 anos morria Caio Prado Júnior. Historiador, geógrafo, escritor, filósofo e político, suas ideias continuam a inspirar a esquerda brasileira, especialmente, o Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Bacharel pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1928, Caio Prado ingressou naquele mesmo ano na vida política e se filiou ao Partido Democrático (PD).
Como membro do partido, ele participou na Revolução de 1930 e foi um dos delegados revolucionários no interior do estado de São Paulo.
Ingressou no Partido Comunista Brasileiro, em 1931, então Partido Comunista do Brasil (PCB).
Já em 1932, lançou o ensaio Evolução política do Brasil em que procurou elaborar uma síntese da história brasileira da colônia ao fim do Império tendo por base o materialismo dialético. Naquele mesmo ano viajou à União Soviética, publicando em 1934 o livro URSS, um novo mundo.
Caio Prado ficou preso, em 1935, durante dois anos após um levante da Aliança Nacional Libertadora (ANL), da qual foi vice-presidente. A ANL reunia comunistas, socialistas e a ala esquerda do tenentismo, a partir de uma plataforma de combate ao fascismo e ao imperialismo.
Partiu para o exílio em 1937, na França, onde desenvolveu intensa atividade intelectual e política, a militância no Partido Comunista Francês. Voltou ao Brasil apenas em 1939.
Caio Prado foi eleito deputado estadual pelo PCB, em São Paulo, em 1947. No ano seguinte, o registro do PCB foi cassado e o intelectual comunista foi cassado.
Autorreforma do PSB e a Revolução Brasileira
O livro “A revolução brasileira” foi lançado em 1966 e inspira os debates sobre a Autorreforma em curso no PSB. A tradição iniciada por Caio Prado identificada com o marxismo, busca uma explicação diferenciada da sociedade colonial brasileira. Os debates são realizados todas às quintas-feiras, a partir das 18h30 e transmitidos pelo Socialismo Criativo e pelas redes do PSB.
“A teoria da revolução, para ser algo de efetivamente prático na condução dos fatos, será simplesmente – mas não simplisticamente – a interpretação da conjuntura presente e do processo histórico de que resulta. Processo esse que na sua projeção futura dará cabal resposta às questões pendentes. É nisso que consiste fundamentalmente o método dialético. Método de interpretação, e não receituário de fatos, dogma, enquadramento da evolução histórica dentro de esquemas abstratos preestabelecidos.”
Caio da Silva Prado Júnior
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, ressalta a atualidade do pensamento de Caio Prado Júnior ao não se valer de teorias existentes fora do país para buscar as soluções para os problemas enfrentados aqui dentro.
“Caio Prado Júnior era um cidadão que não se deixou colonizar de fora para dentro. Isso é fundamental nos dias de hoje: pensar o Brasil em suas grandes potencialidades para transformar profundamente a realidade que vive a maioria do nosso povo.”
Carlos Siqueira
O líder da Oposição na Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), ressalta a importância de o país construir seu caminho observando sua própria história e características.
“Caio Prado rejeitou a tentativa de se usar anacronicamente uma categorização feudal para o período colo nial do Brasil como capitalista. Essa utopia de Caio Prado, de garantir a nossa emancipação e o desenvolvimento de forças produtivas, que garantissem a nossa autossuficiência, permanece extremamente válida e atual. E é certamente uma tarefa do PSB.”
Alessandro Molon
“Ela se sustenta na luta dos trabalhadores por condições de vida melhor, como foi no século 20, mas, principalmente, se atualiza na necessidade profunda de combater as desigualdades”
Lídice da Mata
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB) elenca três características fundamentais do historiador brasileiro para o entendimento da nossa realidade: compreensão, debate e transformação.
“A primeira delas foi o método: usou a dialética para entender as contradições fundamentais que explicam as injustiças e exclusões. Nos trouxe a ideia de que para ser transformado, o Brasil precisa ser compreendido. O segundo aspecto é não fugir do debate e enfrentar as questões polêmicas. E, em terceiro, a dimensão da transformação, que é um processo inevitável de múltiplas mudanças. ele sempre foi um militante da causa da transformação social no Brasil.”
Flávio Dino
“Adotamos o principio básico de Caio Prado Júnior de que a revolução é um processo que não se refere exatamente à tomada de poder, que é apenas um momento. As grandes revoluções mundiais foram marcadas pelo surgimento de novas tecnologias. A Revolução Francesa pelo surgimento das primeiras indústrias com as máquinas a vapor, a Revolução Russa foi marcada pela energia elétrica e a Revolução Chinesa está se refazendo com os princípios das novas tecnologias da revolução 4.0 nas indústrias.”
Domingos Leonelli
“Fui um leitor ávido do Caio Prado Júnior na minha juventude para entender o Brasil. E me lembro que quando saiu o livro Revolução Brasileira estávamos todos perplexos com nossas interpretações sobre a burguesia nacional. É um livro de grande importância”, afirma o ex-chanceler.
Discordâncias reforçam importância de Caio Prado
O historiador, professor popular e youtuber Jones Manoel avalia que o livro “A Revolução Brasileira” merece sempre ser revisitado e debatido. Porém, ele afirma ter discordâncias fundamentais com o pensador.
“Na hora de pensar o sujeito revolucionário do Brasil, Caio Prado Júnior dá pouquíssima atenção ao proletariado urbano e ao subproletariado urbano das favelas. Ele pensa pouco a dimensão do assalariamento urbano nos grandes centros do Brasil, embora, naquele momento a concentração populacional dos grandes centros urbanos fosse, evidentemente, menor do que é hoje, já tinha um destaque muito grande. E essa concentração populacional e essa concentração populacional totalmente marcada pela questão racial. E o Caio Prado Júnior não consegue ver isso.”
Jones Manoel
Apesar de pontos considerados sensíveis na obra, Jones Manoel considera que o pensador foi muito ousado ao responder duas questões centrais na compreensão de revolução: qual o caráter e o sentido da revolução, e quem é o sujeito da revolução.
Atualidade de Caio Prado Júnior
O intelectual morreu no dia 23 de novembro de 1990, aos 83 anos, em São Paulo.
Passados mais cinquenta anos de sua primeira edição, “História Econômica do Brasil”, um de seus mais importantes escritos, continua atual e indispensável.
Na obra “Formação do Brasil Contemporâneo”, Caio Prado Júnior mostra de que maneira a herança colonial está gravada nas relações e instituições econômicas, políticas e sociais de hoje.
Clássico da historiografia brasileira, “Evolução Política do Brasil” é o primeiro livro que estudou a formação brasileira usando a análise materialista. Uma avaliação das relações entre os fatos, a lógica dos acontecimentos.
Com informações da Folha de S. Paulo e FGV
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