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A pesquisadora Tânia Bacelar de Araújo, professora do Departamento de Ciências Geográficas, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), foi a convidada da última live realizada no ciclo de 28 debates do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e Instituto Pensar para a construção da Autorreforma partidária.
“É preciso pensar nesses potenciais regionais como parte da solução nacional. A grande energia brasileira é a que vem das organizações da população, é isso que a direita está tentando matar. A diversidade regional, o potencial latente de cada região se expressa nos movimentos nacionais, que quando conseguem se tonar nacionais, é porque consegue se enraizar no país adentro”, explica a pesquisadora.
Com isso, a pesquisadora defende que as potencialidades regionais devem dialogar com a política. “Não é qualquer estado que será democrático. Somente quando tiver grande participação da população, ele será um estado democrático para todos. Portanto, a grande tarefa é um debate sobre como democratizar o estado brasileiro”. Tânia Bacelar
Tânia Bacelar é graduada em ciências sociais e em ciências econômicas, especialista em planejamento Global e possui doutorado em economia pela Universidade de Paris I – Panthéon-Sorbonne (França). Aposentou-se em 2014, após 36 anos de contribuição à formação de estudantes na graduação e pós-graduação, à produção de conhecimento e ao desenvolvimento institucional da UFOE.
A economista é reconhecida nacionalmente pelo seu trabalho em prol do desenvolvimento regional, tendo atuado na Sudene durante 20 anos e sido diretora de Planejamento Global de 1985 a 1986. Exerceu ainda os cargos públicos de secretária de Planejamento de Pernambuco (1987 a 1988); secretária da Fazenda de Pernambuco (1988 a 1990); diretora do Departamento de Economia da Fundaj (1990 a 1995); secretária de Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente do Recife (2001 a 2002), entre outros.
Ciclo de debates
James Lewis, vice-presidente do PSB do Distrito Federal, ressaltou a motivação para a realização dos 28 debates realizados para a elaboração das teses da Autorreforma. “Chegamos à última live desse ciclo de debates para contribuir para o desenvolvimento da Autorreforma”, disse.
O presidente do Instituto Pensar, Domingo Leonelli, ressaltou que as lives contribuem para debater transformações estruturais no Brasil. “Debate importante para a esquerda como processo de transformações mais profundos. E Tânia Bacelar produz reflexões importantes para pensarmos o nosso país e suas desigualdades”, disse.
Diante das críticas da pesquisadora, Leonelli reconheceu a importância dos debates para a formulação das teses que compõem a Autorreforma do PSB, que deverá estar finalizada em março do próximo ano. “Com os debates, sempre temos mais trabalho para formular com profundidade o manifesto em desenvolvimento, muitas vezes, inclusive, trabalhando na reformulação daquilo que já produzimos”, ressaltou.
“Eu penso muito no processo do Norte e do Nordeste, do quanto essas áreas poderiam contribuir muito mais para o processo de desenvolvimento nacional”, disse Juliane Lewis, membro da comissão sistematizadora da Autorreforma.
Pensar o Brasil
“Precisamos de um novo momento para pensar o Brasil”, disse a pesquisadora Tânia Bacelar no início da sua fala. “Desenvolvimento regional é um processo estrutural. Essa ideia deve iluminar as nossas reflexões. O que eu defendo é que as transformações precisam ser capazes de tirar as travas do potencial latente que nosso país tem, ou seja, um processo que rejeita a concentração e a exclusão”, disse.
De acordo com Tânia Bacelar, o Brasil vive um processo muito poderoso de concentração regional, e lembrou Celso Furtado, economista e pensador brasileiro que analisou o país no seu processo histórico de exclusão. Entre os problemas elencados, estão o que a pesquisadora chamou de entraves dos potenciais de desenvolvimento regional.
“Celso Furtado dizia que não basta propor um bloco de investimento para a transformação estrutural, mas é preciso distribuir ativos estratégicos. Por exemplo, o conhecimento é um ativo, mas a sociedade brasileira nunca valorizou a educação de qualidade para todos”, ressaltou a pesquisadora.
Bacelar lembrou que o Nordeste do Brasil é apontado “pelo sudeste e sul do Brasil” como parte dos problemas, ou seja, como entrave ao desenvolvimento, quando deveria ser “pensado como parte da solução desses problemas”. Com isso, ressaltou experiências bem sucedidas nos estados do Ceará e Pernambuco nas educações Básica e Média para o século 21, bem como projetos desenvolvidos na área de comunicação digital, com investimentos em infraestrutura para a internet, feitos pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
“Chegamos a um outro importante princípio que é de que não se fazem mudanças estruturais sem o estado, que é central no processo de desenvolvimento. A ideia de que o neoliberalismo vai realizar essas transformações, num estado complexo como o nosso, é uma ilusão”, diz. “Infelizmente, nosso estado foi e continua sendo apropriado por poucos. É o estado das elites, de quem pode no Brasil. Continua assim. Em raros momentos a gente teve a possibilidade de ensaiar a democratização desse estado”.
Entre esses ativos, um dos mais importantes é a cultura brasileira. “Patrimônio que o mundo inteiro reconhece e sobre o qual o documento da Autorreforma aposta muito nisso. É um fator primordial nesse projeto de futuro”, avalia Bacelar. Além disso, o socialismo deve dialogar “com a natureza”. “Qualquer projeto deve dialogar com as questões ambientais globais”.
Questão da atualidade, a desindustrialização nacional preocupa a pesquisadora, mas o mesmo tema surge como novo ativo. “desconcentrar a industria não é tarefa fácil, mas o Brasil desindustrializou. Estamos num momento em que temos de reindusrializar, pode ser que agora se identifique os potenciais afora que tragam maior valor agregado às regiões”.
De acordo co ma pesquisador, existe áreas industriais de grande potencial já mapeadas por pesquisas em curso no Brasil. “É interessante o mapa que resulta nesse trabalho, que mostra que a indústria está espalhada pelo território nacional. O Nordeste está pontuado nesse mapeamento. Então, dá pra gente construir sim, um projeto de país que espalhe valor agregado”, defendeu.
E, se o momento é de crise, que ela seja aproveitada com propõe a Autorreforma, com o “renascimento criativo da indústria”. “O momento atual é de crise, é um momento de passagem. Crise é um momento de passagem, onde o velho ainda não morreu. O novo está nascendo mas ainda não é hegemônico. E essa transição para a era digital é fundamental”.
Com isso, defende Tânia Bacelar, um dos grandes desafios brasileiros está na construção de estratégias para enfrentar o desafios futuros. “Em vez de lamentar as perdas, temos de olhar o nosso potencial pro mundo. E o mundo reconhece o nosso potencial. E o projeto de futuro precisa estar ancorado com os potenciais de cada lugar”.
Entre os ativos atuais, a pesquisadora aponta os movimentos sociais brasileiros, notadamente os que atuam na reforma agrária e pelos direitos dos moradores das favelas. “Eu adoro quando eles dizem que ali tem potência. Quer dizer, a desigualdade é tão grave que ela se expressa, mas as potências não conseguem se expressar”, analisa.
Sobre a Amazônia, a pesquisadora defendeu ideias de preservação ambiental associada ao desenvolvimento das potencialidades regionais. “Precisamos realizar uma reestruturação produtiva, mais competitiva regionalmente. Entrar no mundo como um ativo que elas oferecem. Com a floresta em pé, por exemplo, podemos desenvolver um indústria criativa na região amazônica, aproveitando espécies, por exemplo, dentro dos seus potenciais fármacos”.
“Eu acho que a proposta para a Amazônia esta muito clara no documento da Autorreforma. Defender a floresta em pé com um choque de conhecimento para desenvolver atividades sofisticadas e que empreguem muita gente”. Tânia Bacelar
Ainda sobre os potenciais do Nordeste, Tânia Bacelar defendeu que a região pode construir decisivamente para questão energética. “Olhem o mapa do sol, o endereço é o semi-árido brasileiro. O desenvolvimento nacional passa pela resolução da crise energética e o Nordeste é parte importante disso”, analisa.
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