A atual política externa do Brasil se tornou subserviente e isso prejudica sobremaneira o país. É o que afirma o ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa, Celso Amorim. Ele foi o convidado da 20ª live da ‘Revolução Brasileira no Século 21’, que debateu a ‘conjuntura internacional’, nesta quinta-feira (30).
“O governo brasileiro violou não só o princípio da independência, como o princípio da solução pacífica ao apoiar soluções de força contra a Venezuela. O Brasil passou a atuar com uma total sabujice contra o seu próprio interesse”
Celso Amorim
Até abrir mão do tratamento diferenciado dispensado aos países em desenvolvimento em todo o mundo o governo brasileiro fez, cita o ex-chanceler. O motivo é a tentativa do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) ingressar na Organização para Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE). O que não funcionou. Considerado algo bom por Amorim, que não vê vantagens para o Brasil em fazer parte do “grupo dos ricos”, em suas próprias palavras.
“Não se resolve o problema da democracia e da justiça social se não resolver o problema da soberania”, enfatizou.
Afinal, as relações entre os países refletem na vida das pessoas, mesmo que a influência não seja percebida por parte da população.
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Também participaram do debate o presidente do PSB, Carlos Siqueira; o coordenador do site Socialismo Criativo e membro do Diretório Nacional do PSB, Domingos Leonelli; e a integrante da Direção da Juventude Socialista Brasileira (JSB), Juliene Silva. A mediação foi feita por James Lewis.
A Revolução Brasileira por Caio Prado Junior
“Fui um leitor ávido do Caio Prado Junior na minha juventude para entender o Brasil. E me lembro que quando saiu o livro Revolução Brasileira estávamos todos perplexos com nossas interpretações sobre a burguesia nacional. É um livro de grande importância”, conta o ex-chanceler.
Confira tudo o que rolou sobre a Revolução Brasileira.
Gestões progressistas
Para Carlos Siqueira, a crise brasileira é essencialmente política. Apesar do êxito dos programas de redistribuição de renda e dos progressos no governo Lula, houve um processo de degeneração, observa.
“Concordo que em termos estruturais não foram feitas reformas, mas teve progressos no governo Lula”
Carlos Siqueira
Domingos Leonelli observa que o PSB é o único partido que trabalha no processo de Autorreforma que está em curso na legenda.
“E, na nossa autocrítica reconhecemos que, junto com o PT e os governos de esquerda, não conseguimos levar adiante reformas estruturais que se caracterizam como revolucionárias.”
Domingos Leonelli
Para Amorim, no entanto, mudanças estruturais foram feitas.
“Não houve uma revolução, mas houve medidas revolucionárias. As cotas para as universidades, por exemplo, é uma mudança estrutural”, exemplifica.
Juliene ressaltou a importância das políticas afirmativas e dos programas de redistribuição de renda.
“Estou aqui hoje porque saí da insegurança alimentar pelo Bolsa Família e, depois, outras políticas públicas me fizeram entrar na universidade. Mas a gente precisa pensar ainda como alcançar a maioria do povo preto. Nesse cenário atual, principalmente, as pessoas pretas voltaram para a insegurança alimentar e o desemprego”, frisou.
Tudo é grave, avalia Amorim
Para Amorim, toda a situação atual do país é muito grave.
“Temos o problema da questão ambiental somado à pandemia e à crise econômica profunda, em termos globais. E, do ponto de vista geopolítico, tem a ultrapassagem dos Estados Unidos pela China como maior economia do mundo. Nós temos que saber como vamos nos posicionar”, observa.
O isolamento do Brasil no plano internacional é outro grave problema. Amorim cita reunião convocada pela Colômbia sobre cooperação na pandemia. Chile e Uruguai foram convidados a participar, embora seus líderes sejam de centro-direita. O Brasil, sob o comando de Bolsonaro, ficou de fora.
“Até os governos de direita não querem aparecer ao lado do Brasil”, disse.
Brasil, ex-referência mundial
Siqueira elogiou a condução da política externa por Amorim quando ele comandava o Itamaraty e ressaltou que todo o trabalho feito “está praticamente anulado nesse governo atual”.
“Precisamos recuperar, preferencialmente, no próximo ano quando teremos eleições, para derrotar essa desgraça e horror político que passou pelo Brasil”, criticou.
Ao relembrar a figura de Ernesto Araújo à frente das Relações Exteriores, Siqueira afirma que ele conseguiu atingir os seus objetivos.
“Talvez na história do Itamaraty talvez nunca tenha passado uma figura como Ernersto Araújo, que buscava conduzir aquele ministério de acordo a interpretação dele do que é cristão, que para mim não tem nada de cristão”, criticou.
Amorim observou que o Brasil teve boas relações, inclusive, com os Estados Unidos quando George W. Bush era presidente.
“Apesar das divergências óbvias sobre o Iraque, nós cooperamos. Não sei se porque eles estavam no Iraque, com um prato tão cheio e indigesto, que acabaram aceitando várias coisas que nós propúnhamos em diversas áreas. Na própria Organização Mundial do Comércio (OMC), o estilo de negociação mudou completamente. Não concordando plenamente, mas com diálogo. Naquele momento, ao contrário de hoje, pegava bem estar perto do Brasil.
“Ernesto Araújo, o primeiro chanceler que não merecia esse nome, dizia que queria ser um pária. Conseguiu. Ninguém quer chegar perto do Brasil. Vivemos o pior momento”
Celso Amorim
Amorim destaca ainda que o “Itamaraty não é isso” o que está se vendo no governo Bolsonaro.
O ex-chanceler lembra que Bolsonaro pode não ter programa, mas tem um claro objetivo.
“De destruição total, até das forças armadas”, afirma.
No entanto, ele acredita que é possível sair da atual situação em que o país se encontra.
“É recuperável. Se nós elegermos um governo progressista – eu, evidentemente, apoio incondicionalmente o presidente Lula na próxima eleição -, é preciso eleger uma frente ampla, com diálogo”, defende.
Confira a live na íntegra
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