O que é o Socialismo Criativo e como ele pode ser um vetor de desenvolvimento para o Brasil? Esse foi o fio condutor de mais um debate na Roda de Conversa sobre os resultados da Autorreforma do PSB, promovida pela Fundação João Mangabeira (FJM), na noite desta quarta-feira (26).
O ex-deputado federal constituinte Domingos Leonelli, membro da Executiva Nacional do PSB e coordenador do site Socialismo Criativo, explica que o conceito desenvolvido e adotado pelos socialistas tem como base uma economia planejada, que contemple e estimule as várias formas de propriedade – estatal, pública e privada – e que não repita os erros de formas antigas do socialismo. E que parte da ideia de que as relações de produção mudaram ao redor do mundo.
“Nos propomos a ser uma voz crítica da economia criativa, adotá-la, mas de modo crítico porque ela também tem aspectos terríveis de concentração de renda e de conhecimento, que desprezam completamente o aspecto humano”, define Leonelli.
O Socialismo Criativo é um dos pilares da Autorreforma, aprovada durante o XV Congresso Nacional do PSB, realizado em Brasília, no final de abril.
Leonelli integrou a comissão de sistematização da Autorreforma e enfatiza a importância do trabalho que foi realizado.
“Nós podemos dizer com muito orgulho e convicção que temos o melhor, mais atual e moderno programa partidário e manifesto do Brasil”, afirma.
Leonelli destaca que a criatividade é a principal marca do novo programa, manifesto e informe do PSB.
“Consideramos, como Celso Furtado considerava e Leonardo Boff considera, que a criatividade é um elemento propulsor na nova economia e da nova sociedade do conhecimento. É inerente à atividade humana, mas a ganhou nova dimensão em uma economia desmaterializada, em que os investimentos fixos da formação do capital, antes ligado à máquina e à matéria-prima, hoje se modificou completamente. A formação do capital hoje é determinada muito mais por valores não materiais, por pesquisa, ciência, tecnologia, invenções, ideias. Tudo isso na chamada economia criativa, que inclui as várias formas de cultura e as várias atividades intelectuais”, avalia.
Ele lembra que até a década de 1960, por exemplo, 25% da população dos Estados Unidos trabalhava em chão de fábrica. Atualmente, não chega a 8%.
Leonelli observa que não há como o Brasil entrar de fato no século 21 apenas como consumidores, o que prejudica sobremaneira o desenvolvimento do país. Ele cita o mundo dos games, em que o país aparece como o 4º maior consumidor mundial, mas em 20º como produtor.
“Entramos pela porta do consumo no século 21, mas não pela produção. “O socialismo criativo pretende ser a dimensão humana da revolução tecnológica”, destaca ao lembrar a uberização das relações de trabalho.
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Autocrítica
Domingos Leonelli também lembrou que o PSB fez uma importante autocrítica em seu processo de Autorreforma sobre o fato de a esquerda não ter feito as transformações necessárias ao país por meio de reformas estruturantes quando esteve no poder.
Seguindo o que defende Caio Prado Junior, de que a revolução é um processo que deve respeitar as características de cada lugar, os socialistas partiram da análise da conjuntura do país – e de como o bolsonarismo chegou ao poder –, e buscou experiências bem-sucedidas ao redor do mundo.
Países nórdicos, como Suécia, Noruega e Finlândia, que alcançaram alto nível de desenvolvimento e bem-estar social, assim como as mudanças no socialismo chinês, que após um período “um período radicalizado com a revolução cultura, passou a compreender q para alcançar altos níveis de igualdade e prosperidade precisava desenvolver seu capitalismo”.
“O socialismo desenvolvendo o capitalismo, parece contraditório, mas é a realidade”, observa.
Juliene Silva, da Juventude Socialista e membro da comissão sistematizadora da Autorreforma, destaca o potencial do novo programa do PSB.
Ela destaca o conceito de felicidade, que está ao lado de igualdade e liberdade no Eixo V do documento. A Felicidade Interna Bruta (FIB) foi adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como índice de desenvolvimento, criado inicialmente no Botão.
“Em meios práticos, nosso país está em uma situação muito desagradável no campo econômico. Mas, se a gente tivesse o campo econômico resolvido, ainda não estaríamos felizes. É uma população que tem o meio ambiente destruído, que trabalha, mas não tem tempo para aproveitar sua, não tem acesso à cultura e lazer. Acho q essa é uma das inovações primordiais e inovadoras”, ressalta.
Democracia também é um produto que se entrega
Para Alexandre Navarro, vice-presidente da FJM, a Autorreforma é um feito inédito a atualização programática do PSB.
Ele afirma que a democracia também é um produto que se entrega à população, assim como o ensino público fundamental igual para todos é a base de desenvolvimento para os países que alcançaram alto nível de bem-estar social.
No século passado, natureza, trabalho e capital constituíam os fatores de produção. Neste século, é natureza, trabalho e capital que cria as nuvens do Uber e do IFood, por exemplo.
“O Socialismo Criativo que a gente defende exatamente inserir as pessoas nesse novo mundo disruptivo da tecnologia, inovação e criatividade. Tudo está muito acelerado. A tecnologia da informação, quando chega, domina todas as outras e traz uma consequência imediata, que é o desemprego estrutural. No Brasil, temos 3,6 milhões de pessoas há mais de dois anos desempregado”, ressalta.
Ele prevê que mesmo os quase 8% de norte-americanos no cão de fábrica, como citado por Leonelli, também são funções que vão desaparecer.
E corrobora o posicionamento do PSB sobre o papel da educação para o desenvolvimento do país.
“Educação é dignidade. Educação é o banquinho que faz o fraco, oprimido e miserável olhar na cara do mais sofisticado, bonito e rico dizer não”, conclui.
Confira a íntegra da Roda de Conversa
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