Em todas as crises, as primeiras pessoas a sofrerem as consequências são as mais pobres. Nós estamos vivendo a crise climática e vemos inúmeras migrações e remoções de populações de maneira forçada devido a desastres naturais. Essa é a avaliação do governador Renato Casagrande, que foi o convidado da série Revolução Brasileira no Século 21 que, nesta quinta-feira (21), debateu a questão climática.
“A população mais vulnerável é a que mais sofre com a crise climática. Já estamos vendo migrações causadas por desastres naturais. A rotina de ventos climáticos extremos se torna mais frequente a cada ano”, destaca Casagrande.
O governador capixaba observa que o modelo adotado pelo mundo é exploratório e predatório. O que levou a um consumo maior do que a Terra pode comportar e elevou as emissões de gases poluentes de efeito estufa.
Para mudar esse difícil cenário em que nos encontramos, já que o aquecimento global está acontecendo, Casagrande defende a redução imediata de poluentes. Mudança que precisa ser levada a cabo por governos, setor produtivo e que deve contar com alterações nos padrões de consumo.
Além disso, é preciso reflorestar áreas degradas para capturar carbono e realizar obras de adaptação, que ele exemplifica com ações de saneamento básico e barragens para contenção de água.
“Sempre que é preciso paralisar um processo que já iniciou, como a crise climática, o gasto de energia é muito maior. Estamos tomando providências de forma curativa, não preventiva”
Renato Casagrande
Também participaram do debate o presidente do PSB, Carlos Siqueira e o coordenador do site Socialismo Criativo e membro do Diretório Nacional do PSB, Domingos Leonelli. A mediação foi feita por James Lewis.
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Consórcio Brasil Verde
Renato Casagrande foi eleito, em reunião do Fórum dos Governadores, presidente do Consórcio Brasil Verde, uma iniciativa interestadual que, frente à incapacidade do governo federal em lidar com as questões do meio ambiente, busca empreender ações conjuntas de combate às mudanças climáticas e captar recursos para financiar projetos ambientais de cada região.
O socialista ocupará a primeira presidência nacional do consórcio com o mandato de um ano, que pode ser renovável por mais um. Cada bioma também terá seu presidente e cada estado fará uma contribuição anual ao colegiado.
Casagrande explica que se trata de um grande passo. O Consórcio já aprovou um protocolo de intenções que cada governador encaminhará às respectivas assembleias legislativas para ser votado e formalizar a adesão dos estados que ingressaram no colegiado.
“É uma governança diferenciada. Um fundo climático único que terá a capacidade de se relacionar para dentro e para fora do Brasil. É mais uma força de negociação importante para o país. Não temos a intenção de fazer oposição ao governo neste tema, mas o convencimento a partir de uma conjuntura e correlação de forças”, afirma.
O governador lembra que o Brasil é o quinto país que mais emite gases de efeito estufa, mas é o que tem maior potencial de mitigar esses efeitos.
“Dois terços de todas as emissões está relacionado ao uso inadequado do solo, como o desmatamento. A pecuária é um grande produtor de metano. É um assunto importante para o debate”, ressalta.
Entre as atribuições do Consórcio está a criação de fóruns climáticos em cada estado, que terá seu próprio programa.
Renato Casagrande na COP26
Casagrande viaja para a Cop 26, em Glasglow, na Escócia, no próximo dia 29. O intuito é buscar o financiamento de projetos ambientais do consórcio.
“É importante que a gente chegue na Cop26, mesmo que a gente não tenha o Consórcio formalizado, porque isso ganha um peso na articulação política internacional e abre uma chance para as pessoas se comunicarem com o Brasil”, avalia o governador.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, lembra que, quando se fala em meio ambiente fora do Brasil, os olhos se voltam para a Amazônia.
“É muito importante que o Brasil saiba o que fazer com a Amazônia. E nós, no nosso programa da Autorreforma, propomos a Amazônia 4.0 que é a exploração sustentável por meio da biotecnologia. Não é apenas uma questão de pesquisa, que mobiliza a comunidade científica. Mas, também, uma questão econômica que pode transformar esse conhecimento da biodiversidade e da biotecnologia. Queremos um projeto que sirva à Amazônia, ao país e ao resto do planeta porque a todos interessa a preservação da Amazônia”
Carlos Siqueira
O ex-senador e ex-governador do Amapá, Camilo Capiberibe (PSB), alertou, em vídeo exibido durante o debate, para a urgência de agirmos diante da crise ambiental que está em curso e que, em suas palavras, “veio para ficar”.
“Exige uma solução drástica com a mudança do modelo de produção e de consumo, que se baseiam nos combustíveis fósseis. Esses acordos climáticos têm que ser acelerados”
João Capiberibe
Capiberibe alertou ainda para o desaparecimento das ilhas do arquipélago do Bailique, a 180 quilômetros de Macapá.
“Aqui estamos vivendo uma tragédia ambiental sem precedentes na foz do Rio Amazonas com um processo de erosão brutal. São 10 mil pessoas sem água doce para o seu consumo porque o oceano está avançando Rio Amazonas acima, provocado pelas mudanças climáticas”, denuncia.
Cerca de 700 famílias já perderam suas casas. Escolas, posto de saúde e cartório foram destruídos pelo fenômeno que ficou conhecido como ‘terras caídas’.
O problema é causado por hidrelétricas construídas ao longo do Rio Araguari somado a canais interligando os rios Araguari com Amazonas, feitos por criadores de búfalos com o intuito de encurtar caminho. O aquecimento global também é um fato preponderante. O derretimento das geleiras aumenta o nível do mar e, por consequência, a água avança.
Casagrande afirma que falta pressão popular
Casagrande destaca que o capitalismo mundial e brasileiro terá que levar em conta a realidade que está posta. E afirma que o processo tem que ser considerado por todos, independentemente de sua posição ideológica, por uma questão de sobrevivência. Mas cabe aos socialistas liderarem esse processo.
“Temos que ter consciência que a educação de qualidade é o caminho para termos cada vez mais condições de preparar as pessoas”
Renato Casagrande
Contudo, apesar da crise ambiental já estar em curso e existir pressão da opinião pública em torno da questão, ainda não há mobilização popular para pressionar por atitudes para reverter o problema.
“A necessidade das pessoas, hoje, são outras. As pessoas percebem a fome, a falta de infraestrutura. Mas não percebem que isso tem um efeito natural climático acelerado pela ação do homem”, pondera.
O coordenador do site Socialismo Criativo e integrante do Diretório Nacional do PSB, Domingos Leonelli, observa que cabe aos socialistas defenderem o que é melhor para a coletividade.
“Concordo que não é uma pauta popular, mas temos a obrigação de defender o que é melhor para o povo. Esse é o papel dos socialistas. Não são pautas políticas ainda, embora no Congresso Nacional tenham sido travados debates importantes. Mas, os partidos políticos estão muito atrás dessa realidade”
Domingos Leonelli
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O post Vivemos a crise climática e as pessoas mais pobres são as primeiras a serem afetadas, afirma Casagrande apareceu primeiro em Socialismo Criativo.