A senadora Monica Xavier, do Partido Socialista do Uruguai, participou neste sábado do “Diálogo Internacional”, que encerrou os três dias da Conferência Nacional da Autorreforma do Partido Socialista Brasileiro (PSB), realizada no Rio de Janeiro. Ela fez uma reflexão sobre o atual momento de crise política na América Latina e conversou com os militantes do PSB sobre a “utopia necessária” como via para se ter uma sociedade mais justa.
Para a senadora uruguaia, o evento do PSB é importantíssimo diante de tudo que acontece no mundo, sobretudo a onda conservadora passando por diversos países. A “utopia necessária”, disse ela, requer muita autocrítica dos partidos de esquerda. Monica ressaltou que o capitalismo tem chegado cada vez mais à sua decadência e, ao tentar se reinventar, piora ainda mais a sua versão.
Os protestos recentes na América Latina, segundo a senadora, são uma mostra clara de caminhos por onde transitam o capitalismo para promover e impor a acumulação e dominação. “Não se trata apenas de distribuição de riqueza e suas consequências nefastas às populações mais pobres. Trata-se também da luta da vigência de nossa civilização”, afirmou.
O capitalismo, ressaltou Monica, tem chegado a limites inimagináveis que podem literalmente colocar em perigo a nossa existência como espécie, negando a ciência da crise climática, impondo um mundo de intolerância e terror.
“O capitalismo não é capaz de dar resposta às mudanças climáticas. A sustentabilidade é anticapitalista. Só é possível num modelo de crescimento infinito. Esta realidade é de suma importância para uma sociedade igualitária e justa. O socialismo deve ser capaz de oferecer uma alternativa econômica, social e produtiva. Em caso ao contrário, será o autoritarismo que entrará neste processo”, explicou.
Ela disse que, cada vez que olha para a América Latina, está mais convicta de que o mundo só tem solução com o socialismo em consonância aos valores de liberdade, democracia, justiça social e respeito ao conhecimento. “Hoje nos deparamos com o forte avanço da direita e extrema-direita em escala mundial. A esquerda tem o dever de criar estratégias para desconstruir esse cenário de forma construtiva, com avanços sociais de médio e longo prazo”, pontuou Monica Xavier.
Caso chileno
Segundo a senadora, o caso do Chile é emblemático. É o país da América Latina que tem um dos piores níveis de distribuição de riqueza. Fica claro que o modelo neoliberal não tem condições de resolver as questões sociais, avaliou. O Chile enfrenta uma crise gravíssima devido à profunda desigualdade social.
“O quadro chileno é de uma grande ruptura social, alto custo de medicamentos, saúde e educação, deixando a população miserável. Apenas um pequeno grupo de pessoas teve melhora de vida de forma abusiva enquanto o restante da população se encontra em situação degradante. Até que o povo disse um basta. As manifestações atuais surgem num contexto de desaceleração e crises econômicas”, afirmou.
Monica Xavier citou que o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima um crescimento econômico de apenas de 0,2% para a América Latina neste ano, o que é o mesmo que não crescer. Em paralelo, a previsão para os países asiáticos é de um crescimento de 5,9%.
Para mostrar o quadro complexo da região, a senadora informou que, em 2018, um em cada dez latino-americanos vive em miséria extrema. Em 2002, segundo ela, havia 57 milhões em situação de pobreza extrema. Em 2008, foram 63 milhões. “O nosso desafio é construir o socialismo na democracia e na liberdade, com criatividade, inovação, revolução científico tecnológico”, ressaltou.
A senadora recordou, para concluir, o escritor Eduardo Galeano: “A utopia já está no horizonte. Aproximo dois passos e fico distante dois passos. Por mais que caminhe, nunca será alcançada. Para que serve a utopia então? Serve para que não deixemos de caminhar”. “Acredito que os socialistas têm a necessidade de cada vez que convergimos uma utopia a realidade se abre a muitas mais e, por tanto, o horizonte está sempre aparente”, concluiu.